Bem antes de Seth Rogen emagrecer, as aventuras do Besouro Verde e seu fiel parceiro Kato nasceram no rádio, em 1936. Nos anos 60, virou uma série de TV divertida que revelou o talento de Bruce Lee. Agora, a pergunta é: Será que os mesmos valores destacados naquela época no rádio e na TV funcionam para a plateia do século XXI? Bom, numa comparação com o Batman atual, Besouro Verde (The Green Hornet, 2011) ainda está no estágio Joel Schumacher. Falta chegar ao padrão Christopher Nolan.
O erro esbarra na falta de identidade do projeto. Desde o início, a batata quente foi passada de um diretor para outro. O roteiro chegou a ser escrito por Kevin Smith, que também assumiria a função de diretor. Depois Stephen Chow entrou no projeto – para dirigir e atuar como Kato. Mas Besouro Verde se transformou num filme escrito por Seth Rogen e Evan Goldberg, a dupla de Superbad e outras viagens pelo universo macho. Só que não parece um filme desses caras. Muito menos lembra um filme de Michel Gondry.
Mas vamos falar de super-heróis. Em Kick-Ass, o herói é um adolescente, solitário. A gente entende sua transformação. Em Besouro Verde, não há motivação para o marmanjo Britt Reid se tornar um herói. Seu pai morre, é verdade, mas como a culpada parece ter sido uma abelha, ele não tem a inspiração de Bruce Wayne para descontar nos criminosos. Num belo dia, ele apenas conhece Kato, seu empregado mil e uma utilidades capaz de fazer um ótimo cappuccino (!) e, de quebra, construir mais armas e carros blindados que o exército americano, além de chutar traseiros graças ao seu domínio das artes marciais.
Após umas e outras doses de álcool (sério), ambos decidem sair às ruas mascarados pra ver o que acontece. Pronto. Nasce o Besouro Verde. Assim, sem mais nem menos. Kato continua sendo Kato. E ainda faz tudo, porque Reid está ali só pra fazer pose e falar mais que aquela amiga da sua mulher que liga na sua casa e não desliga antes de 60 minutos.
Somente daqui pra frente é que notamos o olhar de Michel Gondry, pelo menos, no aspecto visual do filme. É legal a sua ideia para explicar a agilidade de Kato nas cenas de luta, mas, ao mesmo tempo, fica a sensação de que já vimos isso antes. E quando o ritmo do filme aparenta uma melhora, entra Dona Cameron Diaz em cena, somente para justificar um suposto triângulo amoroso que pode desestabilizar o relacionamento entre Kato e o Besouro Verde. A intenção é chamar as meninas para o cinema. Enfim, aquele raciocínio gugu dadá dos executivos de Hollywood que entendem de dinheiro, mas não de cinema.
Claro que o filme ganha em problemas, que aumentam quando Rogen, Goldberg e Gondry interrompem ainda mais a trama, para justificar a contratação de Christoph Waltz, sem desenvolver o vilão de forma caricatural nem mesmo real. Ainda assim, o roteiro bem que poderia encontrar falas ou soluções melhores para o nazista de Bastardos Inglórios – certa hora, o sujeito decide usar uma roupa vermelha para ser mais assustador. Só porque o Besouro é… verde. É ruim ou não é?
Se Rogen fica sem graça fora do perfil chapado – e ainda não se encontrou no cinema sem um baseado –, ele não é o maior dos problemas. Nem mesmo o inexpressivo Jay Chou, como Kato, que fala como o Bobby Boucher de Adam Sandler, em O Rei da Água, mas bate e arrebenta sem fazer vergonha ao mestre Bruce Lee. O problema é o roteiro sem o equilíbrio entre ação e comédia, principalmente na hora de direcionar os gêneros ora para o público desse milênio, ora para os fãs saudosistas da série. Outro erro grave: Se era pra descambar pra violência, por que o filme inteiro não adotou um tom mais sério? Afinal, a série tinha uma certa classe e não cometia a deselegância de perfurar os olhos do vilão como num filme de Steven Seagal.
No entanto, o exageradíssimo terceiro ato é muito divertido, o duro é chegar até lá – olha, pra quem estava achando tudo uma grande bomba, até que abraçar o espírito trash nesse final me ajudou a dar altas risadas. Adorei o carro subindo pelo elevador pra você ter noção. Confesso que nunca tinha visto isso. Mas, por incrível que pareça, a única coisa difícil de acreditar nesse final é o Besouro Verde fazer um upgrade por osmose e ganhar a mesma habilidade de Kato. Aí nem uma criança fã de Barney e Backyardigans engole tanta mentira.
Nenhum comentário:
Postar um comentário